Dados de Anadia para a Economia Circular
By Manuel Semedo
Last update: Nov 24, 2020
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Economia Circular
A Economia Circular baseia-se em três princípios:
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Desenhar sem resíduos e poluição;
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Manter produtos e materiais em uso;
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Regenerar sistemas naturais.
Ao contrário do sistema industrial extrativo atual "tira-faz-descarta", a economia circular pretende redefinir o crescimento económico focando-se em benefícios positivos para a sociedade em geral. Uma transição para a economia circular implica uma análise sistémica dos sistemas atuais e uma mudança de mentalidade ao nível de todos os atores - cidadãos, empresas, ONG's, municípios. De forma a cumprir com os seus princípios, a existência de dados é de fulcral importância de modo a conseguir criar sinergias industriais, em que os resíduos de um processo são as matérias primas de outro, em que os alimentos são produzidos local e regenerativamente, a indústria transforma os seus processos de forma a não existirem resíduos, aos seus produtos terem maior tempo de vida e uso, entre muitos outros.
Perspetiva geral
Anadia é um município localizado na Beira Litoral, Região Centro de Portugal, no Baixo Vouga na sub-região da Bairrada e pertence ao distrito de Aveiro. É limitada a norte pelos concelhos de Águeda e Oliveira do Bairro, a sul pelo concelho da Mealhada, a este pelo concelho de Cantanhede e a Oeste pelo concelho da Mealhada. [source]
Estando aproximadamente a 30km de distância do Oceano Atlântico, Anadia tem um clima temperado com as quatro estações bem definidas. Invernos suaves (classe C), verões secos (subclasse Cs) mas longos e frescos (sub-subclasse Csb), de acordo com a classificação climática de Köppen [source], permitem a prática de atividades ao ar livre durante a maior parte do ano. No entanto, ainda que a temperatura média seja de 15ºC, em 2011 registaram-se máximas de 41ºC em junho e mínimas de -5,5ºC em janeiro, com picos de humidade para os mesmos meses (medida às 9h da manhã) de 77% e 85%, respetivamente [source]. Nos meses de maio a outubro, o clima é um factor potenciador da prática de atividades exterior. Desde 2001, o concelho perdeu 4165 residentes, estando o seu número atual (2019) estimado em 27278 habitantes. Destes, 14272 são do sexo feminino e 13006 são do sexo masculino, [source] divididos entre 10 freguesias, numa área total de 216,6 km². A densidade populacional do concelho, em 2018, era de 126,7 hab/km², superior à média nacional [source]. No entanto, é um município maioritariamente rural com um pequeno centro urbano na freguesia de Arcos, onde se situa a capital do concelho, Anadia [source].
Recursos naturais
Água
O concelho é atravessado por uma rede hidrográfica pouco densa com linhas de água, na sua generalidade, de carácter torrencial, ocasionalmente extravasando as suas margens. Em termos de linhas de água, estão identificadas no 13 linhas de água classificadas de acordo com o "Índice Hidrográfico e Clasificação Decimal dos Cursos de Água de Portugal" e outras 6 que ainda, que não estejam classificadas têm interesse devido à importância que apresentam na bacia hidrográfica onde estão inseridas [source] As principais linhas de água são:
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Rio Cértima;
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Rio da Serra, Ribeira do Escoural ou da Vila;
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Rio de Levira ou Ribeira da Volta[source].
O concelho tem 10 zonas de abastecimento de água suficientes para abastecer toda a população do concelho [source], em que apenas 4 zonas de captação abrangem 31383 pessoas, ultrapassando o número de habitantes do concelho, segundo informações no site do município.
Depósitos minerais
De acordo com a informação disponibilizada pela Direção Geral do Território[source], estão identificados 3 depósitos minerais no concelho:
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um filão de manganês na freguesia da Moita, com sinais de atividade mineira descontinuada e sem referências online;
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dois depósitos de tulha, na freguesia de Vila Nova de Monsarros, sem sinais de exploração.
Recursos agrícolas e florestais
O concelho de Anadia dedica 25% do seu território à exploração florestal de eucalipto, estando esta cultura englobada no total da área florestal que alcança 50% do território total. Por outro lado, 33% da área do município é dedicada ao uso agrícola. Em termos de freguesias, as freguesias mais orientais do concelho, também as mais elevadas, são as que se dedicam à produção florestal (Avelãs de Cima, Moita e Vila Nova de Monsarros). As freguesias mais a ocidente são as que mais se dedicam ao cultivo agrícola (São Lourenço do Bairro, Vilarinho do Bairro, União de Freguesias de Amoreira da Gândara, Paredes do Bairro e Ancas), sendo estas as de menor relevo [source].
De acordo com o Censos Agrícola de 2009, da área cultivada no concelho, 55,9% era dedicada à vinha. Relativo aos cultivos permanente (63% da área total), a vinha representa 88,6% deste tipo de cultivos, dividindo-se o resto maioritariamente em árvores de fruto de climas subtropicais. Relativo aos cultivos temporários, 45,8% dos cultivos são de cereais, 24,7% plantas de forrajem e 20,3% cultivo de batata [source]. Destes cultivos, realçam-se as seguintes produções anuais[source]:
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Vinha - 7239,7 ton
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Batatas - 3856,8 ton
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Cereais - 2898,8 ton
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Plantações de frutos (climas subtropicais) - 1971,5 ton
Gado
De acordo com os Censos Agrícolas de 2009, haviam as seguintes cifras para cada animal no concelho[source]:
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Vacas - 650 animais;
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Porcos - 3642 animais;
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Ovelhas - 1259 animais;
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Cabras - 637 animais;
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Equídeos - 40 animais;
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Aves - 246408 animais;
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Coelhos - 9039 animais;
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Cortiços e colmeias - 186 unidades.
Atividade económica
Empresas e Emprego
Em 2018, estavam estabelecidas no concelho de Anadia 3836 estabelecimentos[source]. Destes, 3638 são microempresas, 117 são pequenas empresas, 10 são médias e 2 são grandes [source]. Este tecido industrial emprega 9709 pessoas [source], cerca de um terço da população do concelho. É importante no entanto contrastar o número de estabelecimentos com o número de pessoas empregadas, em números relativos ao total de empresas e de empregados, respetivamente.
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Agricultura, produção animal, caça e floresta: 697 estabelecimentos - 18,2% do total (sendo 602 da área agrícola e animal, e 95 da área florestal) - emprega 874 pessoas - 9% do total;
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Manufactura: 398 (10,4% do total, estando 80 ligados à produção de bebidas, 133 à produção de produtos metálicos excepto maquinaria e equipamento) - emprega 4017 pessoas - 41,37% do total;
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Construção: 338 (8,8% do total, sendo que 158 estão ligados ao desenvolvimento de projetos e construção, 172 à construção especializada e 8 à engenharia civil) - emprega 769 pessoas - 7,92% do total;
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Comércio a grosso e a retalho: 650 (16,9% do total, sendo que 128 são de comércio a grosso, retalho e reparação de veículos motorizados e motociclos, 158 de comércio a grosso com excepção de veículos motorizados e motociclos e 364 de comércio a retalho com excepção de veículos motorizados e motociclos) - emprega 1348 pessoas - 13,88% do total;
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Hotelaria e restauração: 221 (5,8% do total, sendo que 40 são para hospedagem e 181 ligados à restauração) - emprega 541 pessoas - 5,57% do total;
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Consultoria, atividades técnicas e científicas: 318 (8,3% do total, dos quais 163 são atividades legais e contabilidade, 76 ligados à arquitetura e engenharia) - emprega 474 pessoas - 4,88% do total
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Atividades administrativas e serviços de apoio: 435 (11,3% do total, sendo que 395 estão relacionados com secretarias e outras atividades de apoio ao negócio) - emprega 506 pessoas - 5,21% do total
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Saúde e trabalho social: 240 (6,3% do total, sendo que 218 são relacionadas com a saúde) - emprega 346 pessoas - 3,56% do total
Volume de negócios
Analisando o volume de negócios de cada um dos setores de atividade para o ano de 2018, que alcança o valor total de 641,9 M€ [source], identificam-se de seguida os principais setores económicos da região:
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Manufactura: 53,24% (destacando-se a produção de produtos minerais não metálicos, 21,65%; bebidas, 9,11%; produtos metálicos fabricados, 5,21%)
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Comércio a grosso e a retalho: 25,15% (destacando-se o comércio a retalho excepto veículos motorizados e motociclos, 11,58%)
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Construção: 4,64% (sendo que 2,44% é de desenvolvimento de edificado e 1,71% é construção especializada)
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Hotelaria e restauração: 3,63% (destaca-se a restauração e bebida, 2,96%)
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Florestal e serração: 2.02%
Não existem dados disponíveis sobre o volume de negócios gerado em alguns setores importante, como a agricultura por exemplo. Esses dados são neste momento confidenciais [source].
Resíduos
Recolha de resíduos
De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pela Câmara Municipal de Anadia (2016) [source], foram recolhidos pela ERSUC em Anadia 8511,3 ton de resíduos sólidos urbanos e 946,3 ton de resíduos recicláveis, alcançada o total de 9457,6 ton. De salientar que dos resíduos sólidos urbanos, 8272,1 ton (97,2%) foram indiferenciáveis. Dos recicláveis, 586 ton foram de vidro, 189 de embalagens e 170 de papel. É possível calcular com estes dados uma média de 339 kg de resíduos produzidos por habitante durante todo o ano de 2016 [source].
_Águas residuais__
Os dados disponíveis [source] indicam que, para as três ETAR's do concelho, entre setembro de 2006 e janeiro de 2007 foram recebidos os seguintes caudais médios diários:
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ETAR Sangalhos: 734,8 m³/dia;
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ETAR Arcos: 1692,2 m³/dia;
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ETAR Mogofores: 351,8 m³/dia.
Anadia e a Economia Circular
Da recolha de dados efetuada, da qual resulta este artigo, várias questões, a partir de diferentes perspetivas e para horizontes temporais diferentes:
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Quais os resíduos produzidos atualmente e que quantidades são produzidas pelas indústrias do município?
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Qual o consumo de alimentos no concelho e qual a dependência externa desse consumo? Qual a distância de proveniência dos alimentos importados de fora do concelho?
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Qual o consumo de matérias primas das indústrias do concelho, e qual a proveniência das mesmas?
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Qual o consumo de combustíveis fósseis do município?
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Qual o potencial de autoabastecimento do concelho em termos alimentares e energéticos? Qual o potencial de transformação das práticas agrícolas em regenerativas?
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Quanta água pode ser recuperada caso se protejam os cursos de água?
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Quais as emissões de CO2 atuais e como se podem diminuir as mesmas?
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Que quantidade de resíduos pode ser reduzida, reutilizada, reciclada, reaproveitada dentro do município?
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Que novas possibilidades industriais de transformação de resíduos em novos recursos podem ser identificadas?
Para o concelho de Anadia, há uma falta elevada de dados para que se possa prosseguir com planos e projetos a curto, médio e longo prazo no sentido de tornar o município circular. A Economia Circular apresenta uma possibilidade de inovação e de distinção para o concelho, de forma a atrair investimento e indústria, fixar a população, criar melhorias ambientais e sociais significativas ao mesmo tempo que as suas ações locais possam ser replicadas e readaptadas globalmente.
Este é um trabalho individual de tentativa de começar a procurar uma resposta às várias questões levantadas, com a esperança de "contaminar" algumas pessoas interessadas, e de responder a uma questão fundamental:
Como pode a atividade humana coexistir com os sistemas e fluxos naturais de forma sinérgica e de melhoria mútua contínua?
O objetivo é criar uma base de dados aberta que possa ser usada pela comunidade no seu todo para propôr melhorias para o concelho.